Silenciar para estar presente

Estou fazendo um curso inicial de meditação, na linha do mindfulness. O curso é feito com práticas, em grupo, e tem me permitido viver um tempo fora das mídias e, principalmente, horas de silêncio para estar no tempo presente por meio do mergulho no interior de mim. A mente cala e o corpo é.

Não é fácil silenciar para alguém que vive no mundo da lua, que dispersa a atenção a todo momento, a ponto,  inclusive, de não saber qual foi a pílula que acabou de engolir.

Em silêncio, eu nunca havia estado por muito tempo. Este muito, no caso, quer dizer 30 segundos… Raras são as situações que conseguiam segurar a minha atenção; geralmente em se tratando de sociologia ou de sexo, não necessariamente nesta ordem.

Já fui alguém de viver muito no passado, revivendo deleites ou remoendo situações. As mil e uma terapias por que passei (e paguei) me levaram a fazer as pazes com minhas escolhas, fato não  suficiente para me manter aqui no presente. Como ansiosa que sou, já tinha um outro pé no futuro. Só fiz mudar meu foco para lá, no adiante idealizado, desejado ou temido.

Se viver no passado deprime, viver no  futuro angustia. Por isso, nos meus devaneios de menina, queria ter uma bola de cristal, o pó de pirlimpimpim, ou, melhor, ser  a  própria Feiticeira (A gênio Jeannie  não me apetecia, porque tinha dono. Minha ingenuidade não me permitia ver que Samantha era escrava do irascível marido.)  Tudo para controlar o presente, para alcançar o futuro agora.

O que eu sabia era que esse diálogo permanente comigo mesma, que tanto me entretinha e me me mantinha alheia do meu derredor, afastava-me do agora. Uma fuga permanente das circunstâncias. Era meio um autômato, uma dicotomia ambulante, um zumbi. Cumpria minhas funções e obrigações com a cabeça acolá.

Coisa de poeta. De pateta. De lesa.

Não vou entrar no mérito dos motivos que me levaram a gostar mais de estar  lá atrás ou ali adiante. Daria um livro e não mudaria coisa nenhuma. O importante é que descobri as estratégias que uso para escapar do presente.

A principal delas é ser um ser falante. Preciso falar sempre,  com o outro ou comigo mesma.  Manter-me falando, analisando, argumentando, ponderando, aconselhando. Haja gerúndio!

O silêncio me apavora. Porque, se eu ficar calada, podem pensar que sou mal educada ou achar que estou deprimida, com problemas. Preciso ser simpática, preciso deixar o ambiente agradável, preciso ser cortês: não devo deixar o outro sem contato, sem resposta. Mesmo quando estou em grupo, sou eu quem quebra o silêncio constrangedor dos inícios.

Mas o falar também me apavora. Tenho que fazer um esforço muito grande para me manifestar em situações públicas, mesmo nas conversas a dois. Fico tão preocupada com o conteúdo da minha fala, que minha mente trava uma árdua batalha para descobrir o que dizer de forma “inteligente”, pertinente, eficaz. As ideias fogem, dá-me até taquicardia. Uma preocupação constante com a performance. Com a minha performance.

Fui uma avaliadora cruel dos meus feitos e desfeitos.

Agora descubro que é no silêncio que me acho. Não o silêncio absoluto do tudo, como aquele que se encontra na morte que acredito.  Mas o silêncio da mente, daquela que controla, avalia e determina tudo, daquela que interfere no sentir, que menospreza a necessidade do corpo, que manipula a vontade ao seu bel prazer e interesse.

É hora de ouvir a mim, de fato, sem críticas, sem broncas, sem ironia, sem desprezo. Apenas ser.

Para ter clareza do que quero, do que posso, do que devo.

Por escolha.

Nota: Esta minha busca começou de uma maneira inusitada. Queria viver minha sexualidade de forma plena, sem necessariamente ter que me prender a relacionamentos monogâmicos ou formais. Muitos foram os entraves para colocar em prática minha meta. Li o que pude a respeito do assunto,  procurei  especialistas , experimentei relações alternativas, conversei sobre o assunto com amigos e terapeutas. O que eu aprendi? Que a solução que eu buscava não estava em mudar a estrutura social,  ou a recorrer aos outros do passado, do presente, ou do futuro. Porque controle social continuará existindo e as ações dos outros  também. Apenas eu é que preciso aprender a me relacionar saudavelmente com ambos e, para isto, preciso me conhecer, lidar com meus limites, respeitar os meus valores, mudar a mim, com generosidade, mas sem leniência.

Não sei onde vou chegar com essa minha busca. Sei que estou vivendo, calma e plenamente, as prioridades de cada momento da caminhada da vida que me resta.

 

 

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