Arquivo do mês: agosto 2017

Conversa entre ex

O WhatsApp permite que que as pessoas conversem.

Agora, em algum lugar do mundo…

[19:47, 21/8/2017] Ex-mulher: Mandei hoje o quadro pra portuguesa.
[19:47, 21/8/2017] : Nora enrolou muito. Fui eu mesma☹
[19:47, 21/8/2017] : 105 reais. Caro este trem.

[19:48, 21/8/2017]  Ex-marido: Vc não mandou foto do registro. No dia 27 só encontrei isso aí.

[19:49, 21/8/2017] Ex-mulher: Ai ai
[19:49, 21/8/2017] : Parece praga. Por isso não achei a foto.

[19:50, 21/8/2017] Ex-marido: Não faz mal.
Há de chegar.
[19:50, 21/8/2017] : As caravelas levavam 40 dias.
[19:50, 21/8/2017] : E ninguém reclamava.

[19:51, 21/8/2017]  Ex-mulher: A outra chegou em 10 dias.

[19:51, 21/8/2017] Ex-marido: Num esquenta.


[21:43, 21/8/2017] Ex-marido: Limpei a casa
Quero meu ovinho!

[21:44, 21/8/2017] Ex-mulher: De au au. ☺
[21:44, 21/8/2017] : Parabéns!

[21:46, 21/8/2017] Ex-marido: Pela previsão meteorológica, aqui vai fazer frio até 27.08. Hoje o frio foi cruel . Agora está 18.

[21:47, 21/8/2017] Ex-mulher: 18 é muito gostoso. Eu querendo um frio. Aqui demais calor. Demais.

[21:47, 21/8/2017] Ex-marido: Vai fazer 14 de madrugada.

[22:02, 21/8/2017] Ex-mulher: Bom demais pra dormir. 😘  Vou descansar. Hoje teve eclipse.  To morta. 😪 beijinho boa noite.

[22:03, 21/8/2017] Ex-marido: 😘 : Boa noite.

[08:55, 22/8/2017] Ex-marido: Coluna | Democracia sem povo; por Eliane Brum https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/21/opinion/1503324298_467830.html?id_externo_rsoc=whatsapp

[10:27, 22/8/2017] Ex-mulher: Para pensar. Equivale a alcançar metas a qualquer preço ou manipular, omitir ou ressaltar dados e necessidades. Ai ai… Estou filosófica. http://www.revistapazes.com/uma-pessoa-ruim-nunca-sera-um-bom-profissional/

[11:01, 22/8/2017] Ex-mulher: Quando já não é preciso sequer manter as aparências se alcançou um outro nível de perversão. Gostei.

[11:08, 22/8/2017] Ex-marido: O despudor do poder.

[11:08, 22/8/2017] Ex-mulher: Isso. terminei de ler agora. Boa reflexão.

[11:10, 22/8/2017] Ex-marido: O duro é saber que 99% das pessoas não têm acesso a esse tipo de leitura e dos que têm, 80% não entende.

[11:14, 22/8/2017] Ex-mulher: a questão é que a falta de pudor está enraizada na sociedade. Quando todo mundo faz o que quer, do jeito que quer, sem se importar com o outro e NEM com a opinião do outro, é isso que dá.

[11:14, 22/8/2017] Ex-marido: Assim, sobra 2% de pessoas que entenderão isso. E desses 2%, 90% faz parte da elite despudorada. Ou seja, palavras ao vento, ou como disse Bob Dylan,


[11:17, 22/8/2017] Ex-marido: Esse despudoramento da sociedade, segundo Darcy Ribeiro, faz parte de um plano bem elaborado e bem executado de nossas elites, desde os tempos do Brasil colônia.

[11:19, 22/8/2017] Ex-mulher: a cultura do individualismo e da esperteza e o esgarçamento dos laços comunitários fazem a retroalimentação desse despudor.

[11:21, 22/8/2017] Ex-marido: Hoje vc acordou bem você mesma, mesmo.
😂

[11:25, 22/8/2017] Ex-mulher: Sim, dizendo coisa com coisa nenhuma.   😂😂😂😂😂😂 😂😂😂😂😂😂 😂😂😂😂😂😂 Muito sociológica.

[11:26, 22/8/2017] Ex-marido: Segundo o Bauman, um de seus prediletos autores, os laços comunitários foram substituídos pelos grupos sociais virtuais, onde vc gerencia seu próprio grupo e não fica sujeito à regras e aceitação do outro, exterminando, dessa forma, o contraditório, o debate de ideias, pois no seu grupo social virtual vc só aceita membros que têm o mesmo pensamento.

[11:27, 22/8/2017] Ex-mulher: Exatamente. Conversa-se sobre o mesmo com o mesmo. Tipo nós.  😂😂😂😂😂😂  😂😂😂😂😂😂

[11:27, 22/8/2017] Ex-marido: 😂😂😂😂😂😂

 

O tempo é o melhor remédio. Cura feridas, relativiza os acontecimentos. Permite que possamos refletir sobre o que nos acontece, elaborar sentimentos, aceitar perdas e receber o que a vida nos proporciona. O que fica, o que permanece, mesmo que com outro formato e significado, é o que importa. Mesmo que seja na forma de lembrança ou de vida que segue. Bom é o tempo vivido que leva à sabedoria. Bom, simplesmente, viver.

O segundo susto

Saí no meio do expediente de trabalho para ir à consulta com o ortopedista. Já fora bem cedo “marcar a vez” para não perder horas preciosas na sala de espera.

Cheguei esbaforida, suada e na expectativa de não ter perdido a consulta. Não tinha. Deu tempo de olhar a revista antiga com fotos de uma ruivinha linda, atriz da Globo, “alguma coisa” Rui Barbosa.

Entrei no consultório com uma pasta de exames e cumprimentei o médico. Antes que ele perguntasse, disse que fazia acompanhamento com médica de família que me recomendara procurar um ortopedista para verificar as dores nas articulações dos meus pés e das mãos.

O médico pegou os exames, colocou ao lado e apertou uma campainha. Enquanto isso, eu explicava que ali estavam meus exames mais recentes.

A secretária entrou e ele se despediu de mim, dizendo que pegasse as requisições para novos exames com a atendente. 

Ããããã! Acabou? Pior que transa de codorna! Depois desta proto-consulta the flash, saí meio aparvalhada do consultório e me sentei para continuar a ler a reportagem que havia largado no minuto anterior. Isto mesmo, um minuto para o médico me informar que iria pedir vários exames, muitos dos quais já havia entregue para ele.

Não tive alento para argumentar, nem reclamar. Voltei para o lugar da minha insignificância, de onde não deveria ter saído.

Este foi o segundo susto de hoje . O primeiro foi very hard. Aconteceu durante troca de mensagens pelo WhatsApp com uma pessoa com quem tive um envolvimento erótico-afetivo. Um amante que entrou na minha vida de uma forma muito peculiar. Mantemos ainda contato eventual, mas o conteúdo de nossas conversas extrapolam o caminho reservado aos amigos e percorrem, muitas vezes, as veredas dos amantes.

Mesmo agora, depois do susto, sorrio ternamente ao lembrar como ele me fez muito, mas muito feliz com seu jeito de menino safado. Por tempo nem tão curto, nem tão morno, como acontece nas paixões de inverno.

Vamos ao primeiro susto.

Depois de alguns ensaios de déjà vu (que me fizeram  crer em possibilidades futuras),  meu amigo/ex-amante relatava para mim questões que está vivendo no seu relacionamento atual. De repente, perguntei: você tem feito sexo com outras pessoas além da sua companheira? Ele respondeu: “Sim”.

A resposta simples e objetiva foi como um soco no estômago. Deu-me um aperto no peito, uma tristeza repentina, como se alguma coisa desmoronasse dentro de mim. Chorava sem derramar lágrima alguma. Um sentimento de perda, de pesar. A confirmação de que o meu tempo com ele passou. Acabou, de fato.

O que realmente me espanta é a minha capacidade de me surpreender com o óbvio. Não é que não soubesse que as consultas por meio de planos de saúde são despersonalizadas. Não é que não soubesse que a fila anda, que um ser infiel é sempre infiel.

Então porque fiquei assim tão arrasada, tão… (nem achei palavra para definir)?

Porque a palavra e a ação dão concretude ao que não se viu, ao que  apenas se pressentiu. Porque tudo o que já foi, pode ser vivido de forma diferente. Por mais que a possibilidade seja mínima.

A possibilidade no devir é que me faz acreditar no não determinismo do óbvio.

Além de me sentir uma mulher especial. Aliás, todo mundo sente-se especial, quer ser tratado como especial, ter vivido algo especial.

Não é bem assim, por certo.

Para o médico, nem pessoa sou; nosso contato se limita a $$$: quanto menor o tempo gasto comigo, maior sua produtividade, maior seu ganho.

Para o amante… não posso dizer o que sou, o que fui. Só ele sabe o que significa cada mulher que passa por sua vida. Ele carrega seu fardo e seu enfado de ser o que é.

Importa-me o que nosso encontro representou para mim. O prazer vivido, as lembranças que ficaram, as histórias para contar. É o que sinto, o que mantenho comigo, o que me faz sorrir.

Recuso-me a me considerar mais uma. Jamais fui. Jamais serei.

Mas a possibilidade requer um tempo que não disponho. O óbvio, mais uma vez, venceu.