Solidão a dois

Preciso dar uma pausa de uns minutinhos no trabalho para escrever sobre algo que, vira e mexe, invade meu pensamento: a solidão.

Faz um tempo que penso sobre isto, pois tenho me defrontado com muitas pessoas que se sentem , que querem amor, carinho, atenção. Algumas tornam um inferno a vida dos próximos, com cobranças e exigências fora de hora. Outras, tornam-se verdadeiras ermitãs, criam um mundo a parte em que só cabe a si e aos seus sonhos. Devagar, vão murchando, apagando…

Não se trata daquela solidão existencial da adolescência, da profusão de hormônios que nos desnorteia e nos faz mergulhar no mundo interior, por um tempo, para enfrentar o devir.

Nem mesmo de uma solidão patológica, das químicas da alma, em que a vida não faz mais sentido, de fato; em que o mundo é adverso e a culpa é do outro ou de si mesmo. As pílulas da felicidade ajudam a amenizar os sintomas, mas não solucionam a questão. O outro aqui, pouco importa.

As pessoas de quem falo são aquelas para quem o sentimento de estar só é por demais incômodo porque é uma solidão não esperada. O futuro agora presente não corresponde ao que foi planejado: o casamento acabou, entes significativos morreram, a desejada aposentadoria se apresenta como tédio ou inutilidade, os filhos estão envolvidos com seus interesses e suas próprias famílias, os amigos se distanciaram por falta de afinidade ou de disponibilidade.

O rei (ou rainha) perdeu a majestade. A contragosto, é óbvio.

Assim, dia a dia, sós, vão cultivando raiva, indignação, rancor, mágoa, tristeza. Buscam no passado as justificativas do que acontece no presente e idealizam o futuro sobre o que não acontece no presente.

Presente? Que presente? Pouco vivem o agora. Estão sempre lá, em algum lugar que lhes dá o conforto e o prazer que não sentem aqui. A realidade não consegue se sobrepor à fantasia.

Ela, a fantasia,  é insuperável em nos dar prazer e dor, porque não depende da vontade do outro. É criada ao bel prazer de cada um.

Das solidões sentidas, entretanto, a mais dolorosa é a solidão a dois. Pessoas que estão juntas, mas que não se olham, não se tocam, falam somente o trivial, o funcional para mover o cotidiano.

Pessoas autorreferentes, controladoras, anoréxicas de empatia.

Para sobreviver, criam situações de dependência imaginária para manter o outro ao seu lado, um outro que está longe, muito longe, que já foi… mas que fica porque é cômodo, porque é dependente, porque é forte, porque é fraco. O estar junto é uma convenção, uma obrigação. Por comodismo. Ou porque vive, também, em algum lugar do passado ou do futuro. Ambos idealizados.

É necessário buscar sentido para a vida em qualquer tempo, em qualquer idade. Conhecer pessoas, encontrar afinidades, ir atualizando o que se quer com os recursos físicos e metafísicos que se dispõe no momento.

Não desista de viver o agora. É preciso estar aberto para novas experiências e  tirar proveito delas para seguir em frente. Chutar o balde, se preciso for!

Sempre vivendo, aprendendo e usufruindo das gotas de alegria que caem sobre nós.

Nota: Tocar fogo para ressurgir das cinzas 🙂

 

3 Respostas para “Solidão a dois

  1. MARIA ALVINA HASS GONCALVES CURVO PAIM

    Mais uma coisinha. Adorei a sandália vermelha. Lembrou-me o filme”A Dama de Vermelho”.

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  2. MARIA ALVINA HASS GONCALVES CURVO PAIM

    Adorei sua visão da vida. Escrevi, há tempos, algo parecido. Não o texto, mas o que ele contém. Parabéns! Colocar no papel, ou digitar, ou o que for faz muito bem. Nenhum psicólogo ou psiquiatra entende melhor nós mesmas do que nós. Parabéns bonequinha cor de rosa! Te amo!

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